Logo da ASBRAER
Logo da ASBRAER

REDE DE NOTÍCIAS

NOTÍCIA

Mulheres do Agro: o empreendedorismo feminino no campo como uma grande rede de apoio


Muitas trabalhadoras do campo contam com o apoio de outras para que possam desenvolver suas produções e gerar renda para suas famílias


05/04/2024 | Assessoria de Comunicação: Ascom Pesagro/Rio


Foto: Ascom Pesagro-Rio

Dizem que toda mulher precisa de uma rede de apoio para poder criar os filhos, trabalhar e se fortalecer. Essa rede de apoio é formada, em boa parte, por outras mulheres, que servem de esteio e alicerce para que aquela possa crescer e realizar seus sonhos.

 

No empreendedorismo feminino rural também é assim. Muitas trabalhadoras do campo contam com o apoio de outras para que possam desenvolver suas produções e gerar renda para suas famílias. E é essa renda que muitas vezes faz meninas do interior chegarem às universidades e a cargos de destaque em grandes empresas.

 

O motor do negócio agropecuário feminino é o sonho que faz bater o coração de cada mulher do campo, representadas aqui pela Maria, pela Ana, pela Luísa e pela Simone. Elas fecham uma cadeia de ajuda mútua. Uma ajuda que começa no desenvolvimento de uma solução criada por uma pesquisadora, que é levada por uma extensionista à propriedade de uma produtora que, a partir de então, consegue ver seu negócio crescer e sua vida mudar.

 

Um ciclo que gera alimento e esperança em vários níveis e que nos faz acreditar numa sociedade mais próspera, humana e sustentável a partir da história de mulheres que nos ensinam sobre agricultura familiar, amor à terra, amor à ciência e coletividade.

 

Venha conosco, nesta edição do Caderno Agro em homenagem ao mês das mulheres, conhecer um pouco do empreendedorismo feminino do Rio de Janeiro a partir da história dessas mulheres do campo.

 

O valor da mulher que lida com a terra

Lidar com a terra requer habilidade, sabedoria e resiliência. Características que acompanham a mulher que trabalha na área agrícola. Pena que nem sempre ela tem seu valor reconhecido pela sociedade.

 

De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que mediu no mundo inteiro a desigualdade entre homens e mulheres trabalhadores do campo, as mulheres têm piores condições para exercer a sua função como agricultoras, têm poucas oportunidades, muitas vezes trabalham mais e ganham menos do que os homens.

 

Um alento para as agricultoras do Estado do Rio de Janeiro são as políticas públicas desenvolvidas pela Secretaria de Agricultura para mitigar as consequências dessa desigualdade estrutural.

 

De acordo com levantamento da Emater-Rio, as mulheres, têm cada vez mais, conquistado seu espaço no campo e se tornado peça fundamental para a agricultura. Mais de 33 mil mulheres rurais estão cadastradas pela empresa, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura.

 

A diversificação e a expansão de algumas áreas nos últimos anos revelam o aumento da mão de obra feminina. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com a perspectiva de gênero, em 2018, cerca de 15 milhões de mulheres viviam na área rural, o que representava 47,5% da população residente no campo no Brasil.

 

Diante desse contexto, ganham importância os centros de pesquisa da Pesagro-Rio, que desenvolvem estudos para melhorar a produtividade e as condições de trabalho da mulher do campo, e as ações de extensão rural da Emater-Rio, que fazem esses estudos chegarem até as agricultoras.

 

Luísa Junger é extensionista da Emater e sente muita satisfação em ver como seu trabalho pode oferecer contribuição direta para as mulheres que ela acompanha no campo.

 

“Ao oferecer assistência técnica e extensão rural para agricultoras e suas famílias, estamos promovendo o desenvolvimento econômico e social das comunidades rurais como um todo. Isso pode beneficiar diretamente as mulheres que vivem nessas áreas, proporcionando-lhes oportunidades de geração de renda e melhorando suas condições de vida”, exalta Luísa.

 

A pesquisadora Maria do Carmo de Araújo Fernandes, do Centro Estadual de Pesquisa em Agricultura Orgânica da Pesagro-Rio, compartilha o mesmo sentimento de Luísa. O seu trabalho valoriza as trabalhadoras rurais a partir do momento em que oferece a elas melhores condições para executar seu trabalho e ganharem autonomia financeira.

 

“Os produtos alternativos que desenvolvemos no laboratório oferecem qualidade de vida para as agricultoras familiares, dando autonomia para que elas produzam seus biofertilizantes, óleos e extratos nas suas propriedades para usarem em suas plantações e gerarem renda”, explica Maria, que também ministra cursos voltados para mulheres agricultoras.

 

Herdeiras e transmissoras de um conhecimento ancestral

Uma característica comum entre as trabalhadoras do Agro é o amor pela terra enquanto herança de família. Luísa Junger executa hoje, com paixão, o seu trabalho de extensionista na Emater, mas essa adoração pelo trabalho começa na infância e na observação de pessoas inspiradoras da sua área.

 

“Meu interesse na área remonta à minha infância, quando cresci em uma família de produtores rurais. Além disso, lembro-me vividamente da figura inspiradora do Sr. Alcides, um extensionista rural da Emater-Rio na época. Sua paixão pela Assistência Técnica e Extensão Rural era evidente, assim como sua dedicação em ajudar os agricultores locais a aprimorarem suas práticas e aumentarem sua produtividade. Essas vivências deixaram marca profunda em mim, moldando meu interesse pela área e me inspirando a seguir carreira nesse campo”, conta a extensionista com brilho nos olhos.

 

Simone Aparecida, agricultora que Luísa acompanha e auxilia com o seu trabalho, também é herdeira de sabedorias ancestrais. A cafeicultora lembra com carinho que sua relação com a lavoura de café vem de berço e tem a ver com sustento e união familiar.

 

 “O início da minha vida como produtora rural foi marcado pela influência da minha família, que sempre teve a agricultura como sustento. Desde cedo, meus pais me ensinaram sobre o cultivo da terra, compartilhando seu conhecimento e experiência enquanto trabalhávamos juntos nas lavouras e nos cuidados com os animais. Ao lado dos meus irmãos, aprendi a semear, cultivar e colher, aprendendo cada etapa do processo na roça”, explica Simone.

 

A agricultura para essas mulheres é mais que uma atividade econômica. O semear, cultivar e colher é cartilha que liga gerações numa escola que representa a própria vida.

 

Ana Maria de Oliveira, agricultora do sítio Cachoeirinha, em Petrópolis, e integrante da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO) diz que o seu trabalho no campo foi tão natural e espontâneo que acredita que já nasceu gostando de plantar. Com várias gerações da família dedicadas ao trabalho agrícola, seu destino foi dar sequência à relação profundamente íntima com a terra.

 

“O meu início na área rural surgiu de forma espontânea. Meus avós eram agricultores, meus pais também são agricultores e, consequentemente, eu também cresci gostando muito da agricultura. Aos sete anos, meu pai me incentivou dizendo que a agricultura era uma coisa maravilhosa e daí eu comecei a me interessar. Foi um começo muito gostoso, porque meu pai dizia: você tem mãos boas para plantar. Continue assim, você vai se dar bem.”

 

E foi o que aconteceu, Ana segue com sua paixão pela terra levando conhecimento técnico e sabedoria às próximas gerações da família. “Eu acho que quando a gente faz bem o nosso trabalho a gente dá exemplo para outras mulheres. As minhas duas filhas mesmo já gostam da agricultura e já acreditam na importância da agricultura orgânica”.

 

Agentes da transformação sustentável

As mulheres que vivem em áreas rurais são agentes chaves da mobilização para conseguir as mudanças econômicas, ambientais e sociais visando à sustentabilidade. A identificação do feminino com a natureza, a sensibilidade e a preocupação com a sobrevivência das próximas gerações fazem das mulheres peça fundamental para fortalecer o cuidado com o meio ambiente.

 

Maria do Carmo, pesquisadora em agricultura orgânica, acredita na importância do seu trabalho para desenvolver melhores condições, tanto para a natureza quanto para quem trabalha nela.

 

“O que eu mais gosto do dia a dia do meu trabalho é de desenvolver produtos alternativos. A minha grande jogada foi observar como era a agricultura no início do século XX, quando não havia os agrotóxicos. Aí eu peguei alguns desses conhecimentos, adaptei à realidade da agricultura fluminense e começamos a produzir biofertilizantes, trabalhando com extrato de plantas, óleos essenciais e homeopatia”, explica Maria do Carmo.

 

Ligada ao trabalho de Maria do Carmo está a agricultora Ana Maria de Oliveira. A pesquisadora transfere o seu conhecimento para que a produtora possa aplicá-lo em sua lavoura de forma responsável e sustentável.

 

“A agricultura orgânica é mais fundamental ainda porque leva para as pessoas um produto de qualidade, isento de agrotóxicos. São produtos que fazem bem à saúde, fazem bem à natureza e fazem bem de modo geral. A tarefa que eu considero mais importante é o cultivo de produto isento de agrotóxico, que não polui a natureza. Isso sim é muito importante. Eu comecei a produzir orgânicos em 1979 e é o meu projeto de vida. Tenho como meta produzir sempre produtos livres de pesticidas e outros químicos que fazem mal à saúde”, conta com determinação a agricultora.

 

As trabalhadoras rurais se destacam em todas as etapas do processo produtivo de alimentos e nas atividades relacionadas à geração de renda e ao desenvolvimento econômico e social no campo.

 

Protagonistas de suas próprias histórias

O protagonismo feminino na agricultura vem crescendo a cada ano. Dados do último Censo Agropecuário do IBGE (2017) apontam aumento de 38% do número de mulheres à frente de estabelecimentos rurais em todo o país.

 

No entanto, o Brasil possui 5,7 milhões de estabelecimentos rurais e apenas 947 mil são dirigidos por mulheres. Segundo dados da Emater, somente 19% dos estabelecimentos no Rio de Janeiro são comandados por mulheres.

 

Muitas vezes, esse cenário está ligado a questões relacionadas à falta de acesso à educação e desenvolvimento técnico e à economia do estado. Na divisão social do trabalho no campo, as mulheres, além das atividades compartilhadas com os homens na lavoura, têm também a responsabilidade exclusiva de administrar a esfera doméstica.

 

A Organização das Nações Unidas (ONU), com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), adverte para a necessidade de superar as desigualdades de gênero. Por meio do informe ONU Mulheres (2015) chama atenção para a importância das mulheres rurais como agentes chaves para conseguir as mudanças econômicas, ambientais e sociais necessárias para o desenvolvimento sustentável. No ODS 5 – igualdade de gênero – prevê a necessidade de “empreender reformas para dar às mulheres direitos iguais aos dos homens”. E no ODS 4 – educação de qualidade – prevê “eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação” (Plataforma Agenda 2030).

 

O acesso ao conhecimento e à formação garante melhores condições de trabalho, reconhecimento e respeito às mulheres em uma área onde a liderança geralmente é ocupada por homens. A pesquisadora Maria do Carmo lembra que sua carreira teve um salto depois que ela ingressou no mestrado em Agronomia.

 

“A minha trajetória como bióloga foi muito complicada, porque eu trabalhava na área agrícola, que era dominada por homens agrônomos. E para mim, recém-formada, trabalhando nessa área como bióloga, foi difícil. Foram uns dois anos até que me aceitassem mesmo não sendo da área agrícola, mas eu consegui. Além disso, naquela época, as mulheres não tinham muita voz. A minha vida profissional alavancou mesmo a partir da pós-graduação em Agronomia na USP”, conta Maria.

 

Para mulheres alcançarem respeito no ambiente de trabalho e cargos de liderança é necessário que a sociedade acredite e apoie mulheres em seus ambientes laborais, garantindo equidade de oportunidades e rendimentos a todos. A consciência em relação às necessidades femininas nos ambientes de tomada de decisão e poder precisa ser trabalhada diariamente e ser estimulada nos ambientes domésticos e profissionais.

 

Simone Aparecida conta com o apoio de um companheiro que divide com ela, além do amor, a esperança de um futuro melhor para a família. “Meu esposo compartilha a mesma paixão pela terra e juntos decidimos unir nossas forças para expandir nossa atividade agrícola”, orgulha-se Simone.

 

Já Luísa acredita que tem muita sorte por contar com companheiros de trabalho que a apoiam. “Apesar do ambiente de trabalho ser predominantemente masculino, encontrei uma estrutura organizacional que avalia o desempenho e as competências individuais sem levar em conta o sexo. Esse ambiente, focado no profissionalismo e no reconhecimento das habilidades de cada pessoa, me permitiu crescer e contribuir de forma significativa para a equipe, sem que meu gênero representasse uma barreira”, conta a extensionista da Emater-Rio.

 

O apoio de parceiros de vida e de trabalho é fundamental para o sucesso das mulheres. Sorte daquelas que, como a Luísa e a Simone, podem contar com esse impulso para serem protagonistas de seus negócios e de suas vidas. 

 

Mulheres do Agro


DESTAQUES

Epagri avalia cultivares de aipim para incrementar produção na região de Curitibanos

SCLN, 116 - Bloco F - Sala 218 Edifício Castanheira
CEP 70773-560 - Brasília / DF

+55 (61) 3963-7873
+55 (61) 3963-7352
+55 (61) 3963-8076

asbraer@asbraer.org.br